Histórias de eventualidades, improbabilidades, bicharadas, noitadas e coisas do arco da velha que de alguma forma me acabam sempre por acontecer. Crónicas diárias com a matilha, muita bicharada à mistura, muita música e sempre com um humor caústico como muita gente gosta de o caracterizar.

17/02/2008

A neve


"Não me importava de partir a cabeça outra vez se nevasse.", foi esta a frase que me levou a lembrar o nevão de 2006. Esta foi a história.
Tinha combinado com um amigo meu mostrar-lhe a serra. Ele tinha cá um outro amigo do Brasil que também estava interessado em conhecer a serra (este bocadinho de Portugal). O plano era fazer uma caminhada, escalar uns mega-lápiás e visitar umas pequenas cavernas. O meu afilhado sempre pronto para a aventura pendurou-se e veio também. Estava tudo a correr como planeado já com uns mega-lapiás escalados e algumas pequenas cavernas visitadas quando fomos para o algar (caverna vertical) que seria a última paragem.
Já íamos a entrar, quando disse ao miúdo para esperar para lhe iluminar o caminho e ajudar na descida, quando ouço um Plaff! seguido um Aiiii, viro-me para trás e vejo o puto estatelado no chão com a cara cheia de sangue. Bem, apanhei o cagaço da minha vida, mas depois de ver melhor vi que era apenas um corte se bem que algo profundo e ia precisar de alguns pontitos. Demos a nossa viagem por terminada e fomos levar o miúdo à mãe, para avisar que íamos com ele ao centro de saúde para levar uns pontitos. A ferida não era grande mas era um pouco fundo e para não ficar com uma cicatriz feia achamos que era o melhor.
"Olha, vamos levar o miúdo ao centro de saúde para levar uns pontitos", ao que ele grita "Não! Pontos não!". Lá lhe expliquei que eram pontos daqueles em penso sabendo perfeitamente que um puto reguila como ele tinha mesmo de levar dois ou três pontitos com linha. Com o miúdo um pouco contrariado lá fomos a caminho do centro de saúde. Claro está que cinco minutos depois já ia perfeitamente contente para mais uma aventura. Chegamos ao centro de saúde e entramos para ser vistos pelo médico, "Então, como foi que partiste a cabeça?" perguntou, ao que o miúdo respondeu "Estava a descer uma caverna, escorreguei e caí." o médico olhou para mim incrédulo e eu expliquei que andávamos na espeleologia, "E tu não tens medo?" perguntou o médico, ele com um sorriso escancarado "Eu não! Porque é que havia de ter medo", o médico riu-se e disse "Ah, mas como és reguila vais mesmo ter de levar uns pontitos" ele olhou para mim com cara de "bolas, agora não me posso escapar" e esboçou um sorriso amarelo. Nessa altura achei que era boa altura de o tranquilizar e disse "Não doí nada, o doutor vai por um spray e não sentes nada.".
Dois pontitos mais tarde e sem lágrimas à vista o médico disse "Vês, não doeu nada, agora é só por o spray para proteger e está pronto". Mas, o spray é doeu que se fartou. Nesta altura já com os olhos cheios de lágrimas, abraçou-se a mim e disse-lhe "Pronto, já passou. Como te portaste bem e não choraste amanhã vai nevar." O tempo ameaçava neve com a chuva e o frio que estava mas longe estava eu conhecer o resultado das minhas palavras proféticas.
Com esta história toda eram já 7 da tarde e tanto eu, como o miúdo, como os meus amigos estavam rotos de fome. Agarramos no carro e lá fomos nós a caminho da inevitável "Ti Maria dos Queijos", encher a pança. Meia dúzia de enchidos, entremeadas, muitos queijos e ainda mais bacalhau estávamos prontos para ir para casa. Chovia copiosamente e já era há muito noite. Despedimo-nos do pessoal e fomos até casa.
No dia seguinte (e segundo o relato dos pais) eram 7 da manhã de domingo com o miúdo aos pulos em volta da cama dos pais aos berros "Mãe! Mãe! Dá-me a roupa, o meu padrinho disse que ia nevar! Como eu não chorei vai nevar!", passados 15 minutos depois de muita insistência o pais lá levaram o o miúdo a espreitar à janela "Vês, é chuva, não é neve. Volta lá para a cama.". Nessa altura os pais já me rogavam pragas por os ter feito acordado tão cedo num domingo de manhã.
Eram 9 da manhã quando caem os primeiros flocos. A mãe que tomava o pequeno almoço a olhar para a janela começou a ver cair os primeiros flocos e deixou escapar um alto "Sacana e não é que está mesmo a nevar!", ao que se seguiu o um "Está a nevar? Está a nevar!". Nesse dia caiu o maior nevão dos últimos 10 anos e o primeiro que o meu afilhado viu. A parte da tarde foi passada com guerra de bolas de neve e bonecos de neve enormes e muitas fotografias à mistura. E esse foi o dia em que o padrinho fez nevar e se tornou o padrinho mais fixe à face da terra.
"Não me importava de partir a cabeça outra vez se nevasse." disse ele ontem, eu respondi conhecendo a minhas limitações "Não abuses da sorte!". Ficamos todos com um sorriso estúpido e a lembrar esse 29 de Janeiro de 2006.

1 comentário:

Ana banana disse...

Nunca mais me esqueço desse dia. eu estava na quinta a tratar dos cavalos. estava um frio que não se podia e eu estava dentro da boxe a dar ração aos cavalos. quando deixei de ouvir a chuva olhei cá para fora e vi que apesar de não se ouvir nada continuavam a cair umas coisinhas do céu. vim para a rua e o meu cabelo ficou imediatamente cheio de flocos de neve :D O resto do dia foi passado em casa dos meus tios mais as duas primas, a fazer mini bonecos de neve e a beber chocolate quente :D