Histórias de eventualidades, improbabilidades, bicharadas, noitadas e coisas do arco da velha que de alguma forma me acabam sempre por acontecer. Crónicas diárias com a matilha, muita bicharada à mistura, muita música e sempre com um humor caústico como muita gente gosta de o caracterizar.

30/06/2008

O cã

Depois de um dia de praia, a preparar-me para a banhoca que iria tirar o sal e areia de partes mais intímas, reparo em algo que à partida nem prestei atenção, mas que me chamou a atenção depois. Um cabelo branco, ainda me pus a olhar a ver se não era golpe de vista, ou um qualquer cabelo loiro ou ruivo no meio das minhas fartas madeixas, mas não era mesmo um cabelo branco. E lá estava o gajo a espreitar como quem diz "Muitos parabéns, otário!". Arranco o gajo para me certificar que era mesmo um branco e sim, a suspeita confirma-se, é mesmo um branco. Sem saber se o atiro para a sanita ou o guardo num frasquinho de álcool fico a olhar para o gajo entre os dedos.
Como se já não bastasse os trinta a aproximarem-se a passos largos, ainda por cima começam a aparecer os cabelos brancos. Não que eu tenha muita preocupação com a minha aparência (que não tenho) como a minha barba de 15 dias de desleixo muitas vezes atesta para desespero dos meus conhecidos. Mas aquele cabelo branco parecia um balde de água fria. "Estás a ficar velho", pensei, algo que já desconfiava há algum tempo mas que a minha vida "boémia" recusava aceitar. Depois tentei minimizar a coisa, pensar no aumento dos combustíveis, do custo de vida, na fome no Quénia, no massacres do Rwanda, coisas assim para meter um cabelo branco em perspectiva, mas não, a imagem de cabelos brancos a despontarem quais cogumelos em Outono não me abandonava.
"Muitos parabéns, otário", foi a prenda de anos antecipada que vai ficar para a memória.

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