Histórias de eventualidades, improbabilidades, bicharadas, noitadas e coisas do arco da velha que de alguma forma me acabam sempre por acontecer. Crónicas diárias com a matilha, muita bicharada à mistura, muita música e sempre com um humor caústico como muita gente gosta de o caracterizar.

18/03/2008

A pulga


Estava a enfiar mais um comprimido para as goelas ainda com o que li no Guia de Campo na cabeça quando me lembrei do caso da pitiríase. Desde esse dia que desconfio de todos e quaisquer comprimidos que me sejam receitados. Mas vou-vos contar esta minha odisseia.
Há uns anos atrás ao sair do banho, olho para a minha barriga (na altura menos flácida e com menor pilosidade) e reparo numa mancha rosada, não liguei e comecei a dançar com a gilete em volta das minhas bochechas. Já com a cara limpa olho e vejo outra mancha. Pensei "Putas das pulgas", não que a minha higiene seja má ou viva num pardieiro, mas qualquer dono de cão ou gato sabe que uma pulga em casa é tão inevitável como o IRS. E não há Frontline que nos safe! Haveremos sempre de apanhar uma ferroada.
Em dois ou três dias as manchas foram-se multiplicando, uma atrás da outra, mas como não tinha qualquer sintoma nem liguei. Pensei, deve ter sido algo que comi ou mais uma alergia estúpida. A minha mãe olhou para mim de relance, aponta imediatamente para uma dessas manchas que despontava no meu pescoço. E pergunta "Que é isso que tens no pescoço?!?" (as mães têm este dom). As manchas até nem tinham muito mau aspecto, não eram úlceras as escorrer de puz, ou bolhas de líquido viscoso. Eram simples manchas rosadas. Eu respondi que devia ter sido algo que comi que não faziam comichão nem sentia qualquer coisa de estranho. Claro que fui logo recambiado para o médico mais próximo. A médica olha para mim e diz "uuuuuhm" seguido de um "Tome este antibiótico por oito dias!". Passa-me a receita e envia-me para a farmácia mais próxima.
Ao segundo dia os efeitos do antibiótico já se faziam sentir, as dores no corpo já se tinham instalado, a falta de apetite já era bastante e andava que parecia que tinha feito a maratona. As manchas essas continuavam a despontar alegremente quais magnólias em fim de inverno. Uma aqui e outra acolá, completamente indiferentes ao antibiótico que também já me trazia os seus distúrbios intestinais.
Passados oito dias dei graças a deus ter terminado tais vis comprimidos, mas lá vem outra vez o infame dedo indicador "Ainda não passaram as manchas! Volta já para o médico! Isso não é normal!". Eu que até já me tinha habituado a estas pequenas tatuagens lá voltei esperando encontrar a mesma médica para lhe dizer "Olha, o raio da panaceia que me receitou fez tanto como a c*** da prima.", mas não, desta vez foi um médico que me atendeu.
Contei-lhe a história das tais manchas que apareciam e do antibiótico que só me tinha feito mal à tripa. Ele perguntou como eram as manchas, ao que eu respondi que eram rosadas, com a pele meia seca no meio quando já estavam defuntas. Ele soltou um "Ah", que me fez estremecer ao imaginar uma injecção de penicilina ou mais oito dias em que teria muitas oportunidades de meter a leitura de casa de banho em dia. "Isso é benigno" diz, ao que eu perguntei "Mas não quer ver as manchas?", ele sorriu e disse, "Mostre lá então" seguido de um "Pois, é mesmo isso, é benigno e sazonal. Ninguém sabe muito bem a causa. Mas aparece nesta altura." ao que eu perguntei, mas que raio de doença era esta que me afligia. Não fazia sintomas que notasse, simplesmente apareciam as tais manchas rosadas. "Pitiríase rósea" retorquiu e mandou-me largar o antibiótico e esperar que passasse. Eu assim fiz. Não sem antes mandar uns impropérios mentais valentes à porcaria do antibiótico. O certo é que passou.
Os meus amigos esses é que riram à fartazana, e desde então quando aparecer alguma doença de nome estranho é "olha, o blue é capaz de já ter tido isso". E assim nasceu a minha reprovação a tudo o que sejam comprimidos. Um dia destes conto-vos a história das minhas injecções de penicilina, para todos os sádicos leitores do meu blog.

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